domingo, 2 de maio de 2010

Correr contra o vento...de maré...

                       (foto de Nuno Fernandes em TREKEART)

Correr a favor do vento representa um acto de bondade, sentimos a "mão" amiga que nos ajuda a rolar ,termo que significa correr sem sentir qualquer dificuldade, ir numa espécie de velocidade de cruzeiro.
Faço parte de um grupo de previligiados que morando perto de uma praia podem nela correr quando a maré está vazia, isto é , na baixa-mar. A Costa da Caparica têm uma extensão de areal sem interrupções, quer naturais ou construídas pelo homem, que fazem dela um caso único, estende-se o areal com características para correr, porque a areia fica dura  não solta, durante cerca de 10 km, desde a Costa da Caparica até á Praia da Fonte da Telha.  Este percurso é magnifico, a paisagem, como se imagina, é  mar de um lado e a Arriba fóssil do outro, e depois todo aquele extenso areal que se prolonga até ao Meco. Sendo que após passar a Fonte da Telha se torna mais problemático até á Lagoa de Albufeira, por isso a corrida, na maioria das vezes, só se estende até um local denominado a Mina,  eu costumo ficar pelo terminal da Fonte da Telha, aí dou a volta para regressar á Costa da Caparica.
     Feito este intróito para colocar no centro das atenções o vento, e localizar o local onde este se manifesta , vamos aos factos. Neste ambiente magnifico treino habitualmente de 15 em 15 dias, altura em que a maré o permite. O vento é uma companhia muitas das vezes e como escrevi de início, bondoso quando nos "empurra" com a dita "mão" invisivél (não do Adam Smith). Mas não há bela sem se não! Esta bondade seria extrema se nós, eu e os meus amigos, fizéssemos a corrida num só sentido. Mas a factura espera por nós na volta. Feito meio percurso viramos e de repente parece que veio contra nós uma barreira, tal a força do vento, que nos empurrra teimosamente para trás...Quando o vento é proveniente do Norte...valha-nos pernas e força, aquilo que foi feito a rolar e com a dita bondosa ajuda  é depois feito de um esforço quase equiparavél ao da subida de uma montanha com alguns km. Parece que uma parede se abate sobre nós, pode-se atirar o corpo para a frente que ele não cai... e não estou a exagerar, o percurso de cerca de 9 km é feito de uma persistência quase titânica.
     Imagine-se um vento constante se cerca se 60 km hora a vir contra nós , e nós a correr-mos contra ele com uma velocidade de cerca de 12 km hora, o embate é desigual...mas sentimos a satisfação de conseguir vencer aquela barreira e quando chegamos, aqueles que o conseguem, fica-nos a sensação que corremos numa dimensão paralela, onde o embate do corpo se prolongou e estendeu para lá de nós...quando começamos a andar no sentido contrário vêm a bonança...a corrida proporciona sensações que se pode dizer, únicas, é nestas que reside algum do seu prazer para além de outros.