domingo, 21 de fevereiro de 2010

Porquê mais…treino á chuva…

O Mar da Costa da Caparica deu-me as boas vindas. Ondas revoltas, recente cemitério de pescadores, o mar da Caparica fascina mas impõe respeito…quando se manifesta, exige a contemplação da sua graciosidade misturada com a grandeza da sua força.

Eu e os meus companheiros fizemo-nos ao pontão da Caparica, paralelamente o mar fazia a sua corrida. Há dias em que juntamos grupos homogéneos para correr, quer na parte de ritmo, toda a gente tem o mesmo, quer na cavaqueira sobre os mais diversos temas. Sobre o denominador comum das lesões – acontece a quem corre, mas debelam-se – juntámo-nos para fazer um treino, quase, de terapia. Feito o primeiro km já a conversa ultrapassava o ritmo das nossas pernas. Lançou-se o tema, que leva alguém que, aparentemente, tem tudo a procurar, ou querer, mais?

Interpretações várias, deu para perceber que nem todos temos a mesma visão sobre o tema, alguns olham a poesia da coisa…até a correr há poesia, outros pintam a tons monocórdicos, normalmente cinzento, o tema. Será que tem a ver com a vida…onde se descobre onde ela começa? Parece mais fácil dizer que ela tem um fim, como limite…não um fim como procura….tudo seria mais fácil se a nossa cabeça não complicasse. Mas há pessoas que vieram para dar cor á vida, outras vieram daltónicas, mesmo com as cores todas escarrapachadas….só vêm o cinzento. Postas as coisas, começámos a deambular pelo tema…divagar seria mais adequado, mas devagar já nós íamos. Vai daí, vêm á baila o, Vickie Cristina Barcelona de Woody Allen, a personagem de Juan António, pinta as telas com a mesma intensidade com que pinta a vida…pouco tempo passado sentia-se a corrida através da poesia..do sentido poético da vida…e como foi agradável, perceber que através da corrida também se fazem pistas de poesia, fundadas nas letras e a alicerçadas na vida.

No fim corremos uma hora e sete minutos, apanhámos uma chuvada, fomos saudados por um sol a querer irromper na praia e vimos alguém que, por azar, deixou o carro mal travado (não o nosso) e foi parar ao mar na Cova do Vapor…há dias assim, completos… mas que leva alguém a quer mais, a interrogação ficou no ar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Corrida acto de terapia

Vou treinar para ao Parque da Paz, levo o meu MP3 e ouço música enquanto corro, casamento perfeito entre o prazer de correr e a música que vou ouvindo.

Calço as sapatilhas, final de tarde quase a escurecer. Dia cinzento chuvoso, frio que obriga a um reforço do vestuário.
Inverno, chuva, frio, quase noite…vou só, que me leva a correr , que faz com que este acto, a corrida, tenha tal importância que me leve a abdicar do conforto do quente da casa, para me aventurar na rua no ar livre e frio de um dia de inverno?
 Este acto tem tudo! A corrida, em marcha lenta ou moderada, é para mim um momento de prazer, puro prazer…o corpo cansado, a alma confortada e a mente limpa, são os sentimentos que me ficam depois de correr. Hoje consegui aquilo que há muito tentava, correr só, e ouvir música, aliar esses dois prazeres, que tinha adiado várias vezes em virtude de quando vou correr ter, por norma, companhia para conversar e conviver durante o decurso e curso da corrida.

Coloquei os fones nos ouvidos, olhei o caminho, o manto o negro da noite começava a cobrir o Parque da Paz ( local onde corro ) , não se via viva alma, só eu , os meus fones e a minha respiração. Foi sublime, a música começa a soar, nada mais ouvia…foi uma fusão perfeita, o casamento perfeito entre estes dois prazeres que tenho…aconselho vivamente.
                                              (Foto de Maria Salvador ,em olhares.com) 

Á minha frente os caminhos  estreitos pareciam ser tapetes onde podia quase planar ou escorregar… o som dos Massive Attack balançava-me o corpo…corria, corria sem sentir as pernas…o meu cérebro recebia todo aquele prazer transmitido pelos meus sentidos, quer pelo esforço físico quer pelo apelo sensitivo da música. Faço da corrida um acto de prazer, entre outros prazeres, tem sido nos últimos anos uma “terapia” para mim. No correr expio os meus males, regenero-me após cada corrida…e se uma não chega aumento o tempo , transformando-a em duas se necessário. Agora que descobri este novo aliado, presente da minha filha no Natal, encontrei a fórmula perfeita para a minha terapia ao fim do dia. Munido do Mp3 ou 4, ainda não sei, vou sem temores enfrentar qualquer distância…10, 15 ou 21 km, venham eles, cá os espero com os Massive Attack, Peter Gabriel, David Bowie e os GNR ( os músicos..é claro) ,termino com o “Bem vindo ao passado” destes , parecendo ser o pronuncio de um passado em que não tinha ainda encontrado esta fórmula, corrida e música…só ouvia música e acompanhado…por vezes mal, mas na altura, ou nesse passado, fazia sentido!